terça-feira, 30 de junho de 2009

Em cinco minutos - Parte II

"Cai a noite na cidade
Vinda de lugar nenhum
E o dia vai embora
Indo pra lugar algum..."
Capital Inicial

Pessoas indo e vindo. De terno e de jeans. De salto e de tênis. Gordos e magros. Bem cuidados e feios. Duas mulheres se encontraram e pararam para conversar. Risadas, fofocas e abraços. Despediram-se e cada uma foi para um lado. Uma garota parecia ansiosa. Provavelmente esperava alguém. Era o namorado. Foi recebido com beijos e abraços. Trazia um sorriso que estampava a felicidade em vê-la. Dois homens passaram conversando. Deviam vir do trabalho. Estavam de social. Uma mulher passou quase correndo. A pressa deixava o salto ainda mais torto. A outra devia ser bailarina. O sapato baixo deixava o passo mais leve e suave. Andava como se dançasse. Era bonito vê-la. Um homem passou caminhando devagar. Olhava para baixo. Talvez estivesse triste. Ou só cansado. Um grupo de amigos vinha em minha direção. Conversavam e riam. Divertiam-se.

Lá fora, o Michael Jackson havia morrido. O presidente de Honduras pediria ajuda à ONU. Os casos de infectados pela gripe suína continuavam em ascensão. Outro avião tinha caido. E ainda havia a crise no senado.

Eu estava no metrô. Do lado da catraca. Esperava uma pessoa. Mas observava todos. Cada um que passava. O tempo parecia correr menos. Embora o ponteiro dos segundos não tenha diminuido a velocidade.

Cada uma daquelas pessoas que passavam por mim tinham milhares de histórias para contar. Vinham de algum lugar e iriam para um outro. Poderiam rir para disfarçar a tristeza, andar com pressa para não perder o encontro ou caminhar devagar por não querer voltar logo para casa. Não havia como saber. Quem eu esperava logo chegou. Cinco minutos nunca renderam tanto.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Pérolas

No curso de jornalismo, ensina-se algumas técnicas de como se escrever. Por exemplo, manchetes de jornais e sites precisam ter verbo no presente.

De shortinho, Gisele Bündchen visita amiga

No primeiro parágrafo, é preciso responder as perguntas: Quem? O que? Quando? Como? Onde? Por que?

De shortinho e camiseta larga, Gisele Bündchen foi fotografada na tarde de sábado (27), em Hollywood. O site "Just Jared" publicou as imagens da modelo em todos os ângulos e a chamou de "beleza de grávida".

Mas, antes de tudo, é preciso saber o mais importante: o que diabos é uma notícia? Porque se chamam esse texto acima de N-O-T-Í-C-I-A - assim, com todas as letras -, eu tenho uma B-O-M-B-A:

De calça de oncinha, Andréia Félix vai à balada

De calça de oncinha e blusa preta, Andréia Félix foi vista na noite de sábado (27), na Rua 13 de Maio. Uma de suas amigas disse que “nunca usaria uma calça daquelas, mas na Andréia estava lindo”.

Pronto, fiz uma notícia.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Justus, salários e a crise

Ana Paula Padrão foi para o SBT. Não deu certo.
Adriana Galisteu foi para o SBT. Não deu certo.

Agora, Roberto Justus também vai para o SBT.

Daqui a alguns meses volto a esse assunto.

E, nessa guerra entre emissoras, a disputa da vez, claro, é entre a Record e o canal de Silvio Santos. Alguns boatos dizem que a emissora de Edir Macedo ofereceu R$3 milhões de reais ao Gugu para que ele se junte a trupe do bispo.

- R$3 milhões por mês. Como é que pode? Se eu ganhasse isso por ano já estava feliz da vida – disse eu.
- Por ano? Se eu ganhasse esse valor uma vez na vida já estaria contente – rebateu um amigo.

Depois ainda falam em crise mundial. Essa é só uma desculpa para estagnar os salários e subir os preços dos serviços e alimentos.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Jornalistas, Deus e o Papa

Depois de falar incansavelmente sobre o voo 447 – é pior do que eu pensava: eu sei o número de cor -, a notícia da vez é o Supremo Tribunal Federal (STF) ter derrubado a exigência do diploma de jornalismo para o exercício da profissão.

Eu, que serei jornalista formada no final deste ano, e, até onde sei, todos que conheço – inclusive estudantes -, somos favoráveis a esta decisão. Publicitários, por exemplo, também não são obrigados a ter diploma e, no entanto, as salas de aula do curso de Publicidade estão cheias.

Ao contrário do que alguns possam pensar, a não obrigatoriedade vai estimular as faculdades a enriquecer a grade curricular e os alunos a tornarem-se profissionais mais competentes. Afinal, mais que ter um diploma, para ser jornalista, será preciso ser realmente bom.

Mas não foram apenas a Air France e o STF que estamparam os noticiários. Espantei-me ao ver a capa da revista Época com a manchete “Deus é pop”. A notícia continua: “Uma pesquisa inédita revela que 95% dos jovens brasileiros se dizem religiosos – e eles estão em busca de novas formas de expressar a fé”. Cada um a sua forma, com idade entre 18 e 29 anos, 65% afirmam ser “profundamente religiosos”.

Alguns anos atrás, Humberto Gessinger, o mesmo que profetizou em uma canção que a juventude é uma banda em uma propaganda de refrigerante – um tempo depois Charlie Brown Jr. faria comerciais para a Coca-Cola - afirmava que o papa é pop.

Bem, se o papa fosse pop nos dias de hoje, nunca veríamos manchetes como essas: “Sexo casual entre brasileiros cresce, mas proteção diminui”, “Mais de 10% dos jovens brasileiros encontra parceiro sexual através da Internet”, “Mais jovens têm relações sexuais antes dos 15 anos; nº de parceiros aumenta”.

O papa foi passado para trás, mas Deus está aí: “bombando”, como disse uma garota, seguidora da igreja Bola de Neve, para a matéria da Época.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Nas entrelinhas

Carpe Diem. Tempus Fugit. O primeiro termo significa aproveitar o dia. Sugere que devemos olhar para o agora como se fosse um fruto maduro que amanhã estará podre. Já o segundo, quer dizer que o tempo foge e a vida é breve.

Não penso assim. A vida não é uma corrida contra o tempo. Há coisas que, se apressadas, perdem o significado. Outras, atrasam-se e, se feitas, não terão mais o brilho de outrora. Há, ainda, aquelas que ficam guardadas:

Como uma idéia que existe na cabeça
E não tem a menor pretensão de acontecer.


(Lulu Santos)

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Peripécias de menina

Uma vez, um professor explicou para a sala porque lembramos pouco, ou quase nada, do início da nossa infância. Isto é, do período de meses até uns quatro ou cinco anos de idade, mais ou menos. Alguns sequer têm memórias dessa época. Segundo ele, como não sabíamos nomear tudo o que víamos e distinguir com perfeição cores e formas, as lembranças são vagas e curtas.

Isso explica porque eu demorei anos para identificar o que Claúdio Zoli dizia na música “Noite do prazer”. Como nomear o que não conhecemos?

A noite vai ser boa
De tudo vai rolar
De certo que as pessoas
Querem se conhecer
Se olham e se beijam
Numa festa genial


Refrão:
Na madrugada a vitrola rolando um blues
&*¨%$#*&¨%#$¨&
Eu sinto por dentro uma força vibrando uma luz
A energia que emana de todo prazer


Prazer em estar contigo
Um brinde ao destino
Será que o meu signo
Tem a ver com o seu?
Vem ficar comigo
Depois que a festa acabar


No segundo verso do refrão, eu ouvia algo como: “Trocando de biquíni sem parar” ou “Rolando de biquíni sem parar”. Mas nenhuma das opções fazia sentido algum. Imagine uma mulher que tem dezenas de biquínis e os troca sem parar ou, ainda, alguém que rola de biquíni o tempo todo. Eu sabia que não era isso, mas não conseguia entender nada diferente. Até que um dia conheci B. B. King. E eis que surgiu uma luz. Quando ouvi a música novamente e chegou no polêmico trecho, matei a charada:

Na madrugada a vitrola rolando um blues
Tocando B. B. King sem parar
Eu sinto por dentro uma força vibrando uma luz
A energia que emana de todo prazer


Depois de conhecer um dos maiores nomes do blues, mudei minha concepção sobre a Noite do Prazer. E dou risada toda vez que ouço a canção.

De volta

Mais de uma semana sem postar. Talvez eu não quisesse dizer nada. E, assim, deixar que o silêncio dissesse tudo. Mesmo sem dizer. Mas, chega. Às vezes, até ele fala demais.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Enganos e desenganos

Quem nunca lançou um olhar fatal para conquistar alguém, ficou com as bochechas vermelhas por vergonha, riu sem conseguir parar, gritou por medo ou não conseguiu esconder uma cara de decepção? Os gestos denunciam nossos sentimentos. Contudo, eles também podem ser mal interpretados. É como estar atravessando a rua e perceber que um carro em alta velocidade se aproxima. Há aquele que entra em choque e fica parado, outro que grita, corre, termina de atravessar a rua ou volta para onde estava. Resumindo: existem várias formas de expressar a mesma emoção.

Interpretar as pessoas. Esse é dos maiores desafios que o ser humano tem. Depois disso, entende-las é apenas uma consequência. O problema é que uma ação tem significados diferentes para cada um. Depois que o primeiro entende como ofensa o que o segundo disse ou fez, está dada a largada: as brigas entram em cena. Todos têm maneiras distintas de reagir a determinadas situações e cada qual com o próprio limite.

Já não bastassem os tantos gestos – que têm significados variados -, a rápida, moderna e eficiente internet ainda oferece uma imensidão de novos códigos a serem decifrados. Cada um irá interpretá-los de uma forma. E visto que pessoalmente já pode haver incompreensão, no mundo virtual, as chances que há dos outros não entenderem o que a pessoa realmente quis dizer aumentam ainda mais.

Para mim, USAR LETRAS MAIÚSCULAS SIGNIFICA QUE A PESSOA ESTÁ GRITANDO. Outros dizem que não: simplesmente estavam escrevendo assim em outro lugar e esqueceram de apertar o Caps Lock. Para quem não sabe, as teclas Shift + F3 transformam o texto selecionado em letras minúsculas e maiúsculas. Mas, aparentemente, apertar um ou dois botões pode ser perda de tempo para quem está com pressa.

Entretanto, quando uma conversa é pela internet e, portanto, não se olha nos olhos e nem se pode notar as expressões do outro, a linguagem escrita é a que não só transmitirá a mensagem, mas também a que será analisada como única forma de interpretar o que se quis dizer.

Algumas pessoas não se importam com isso, mas reclamam quando são mal entendidas. Quem não sabe ser simpático nem pessoalmente, não saberá virtualmente.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Relatos da Lei de Murphy – Parte II

O clima de domingo à noite já anuncia: a segunda se aproxima. Hoje, além de primeiro dia da semana, é também o primeiro dia do mês.

De manhã, ao sair de casa, lembrei que não tinha mais crédito no meu bilhete único. Por sorte, moro em um lugar estratégico: há uma banca de jornal que faz recargas em frente à minha casa. Fui até lá. “Está sem sistema”, disse o moço. Então, deixei para recarregar o cartão no metrô. Depois de alguns minutos na fila e perceber que ela não encurtava, fui até uma revistaria. Afinal, se lá estava cheio é porque ninguém sabe que há outro lugar para colocar crédito.

“Idiotas”, disse rindo, enquanto abandonava aquelas pessoas e colocava em prática a minha brilhante idéia. Ao chegar, percebi que a fila era menor, mas só havia uma atendente. No metrô pelo menos tinham três pessoas para atender. “Idiota”, suspirei. Dessa vez, rindo de mim.

Já desesperada, lembrei que sempre há aquelas pessoas que vendem bilhete na porta. Paguei R$2,70 na passagem, mas pelo menos pude, finalmente, ir trabalhar. Sim, cheguei atrasada. Hoje, Murphy riu de mim.