sábado, 13 de agosto de 2011

Árvore da vida é a morte

O que te faz assistir a um filme no cinema? Algumas vezes, não é preciso ler resenhas e ouvir recomendações. A vontade surge pela admiração no diretor ou em alguns dos atores. Já que não conhecia nada de Terrence Malick, foi me baseando na trajetória de Sean Penn e Brad Pitt que revolvi ver ‘Árvore da Vida’. E foi depois deste filme que cheguei à conclusão de que aqueles atores que consideramos muito bons também fazem filmes muito ruins. Tá, eu já tinha percebido isso com Johnny Depp em ‘O Turista’, por exemplo, mas esta última experiência – com Pitt e Penn - conseguiu ser pior. Não me espantou saber que no há mãos de Douglas Trumbull, responsável pelos efeitos especiais de ‘2001 - Uma Odisséia no Espaço’. Mas foi surpreendente recordar que o longa-metragem que me inspirou para escrever este texto em plena madrugada é vencedor da Palma de Ouro de Cannes de 2011.

Há filmes que fazem a gente pensar, que nos enchem de questionamentos e tornam reflexivos os dias posteriores. Gosto deste perfil. ‘O Curioso Caso de Benjamin Button’, também com Brad Pitt, foi um dos que me deixou assim. Pensei que ‘Árvore da Vida’ seria desta forma. Pensei errado. E só não sai da sala ainda no começo – como algumas pessoas fizeram – porque mordi minha língua nos filmes que julguei pelos primeiros minutos, como ‘Dogville’ e ‘Dançando no Escuro’ – que hoje são uns dos meus favoritos. Por isso, fiquei na sala até o último segundo, torcendo para ser convencida de que o longa era bom e que valia meu sábado à noite. Mas ao contrário: suspirei de alívio pelo fim do filme igualmente a todos ali. Houve até uma sinergia, começamos a rir – eu e o resto do cinema. Rir para não chorar. Como disse minha mãe, teria sido melhor ter ficado em casa e visto a Norma e o Léo, da novela das nove.

'Alguém entendeu alguma coisa?', perguntou a mulher que descia a escada atrás de mim. Imediatamente lembrei daquela clássica história da roupa do rei. A tal roupa que só os inteligentes podiam ver. E para ninguém se passar por burro dizia que estava vendo algo. Mas como devem se lembrar, não havia roupa nenhuma. Inteligente foi o cara que não conseguiu terminar a roupa e teve a brilhante ideia de dizer que era um tecido à prova de burros. Pois bem, deve ter um ou outro que diga que ‘Árvore da Vida’ é um grande concorrente a melhor filme da história, pelo menos foi isso que li em alguns sites. Mas não tenho vergonha em dizer que não entendi na-da. História confusa. Cansativa. Não dá para saber exatamente quem morre, como, por que e quando. E mais: também não fiquei com vontade de assistir novamente para ver se entendo. Aliás, minha ideia de morte é muito diferente de ficar perambulando sem rumo pela praia.

‘Árvore da Vida’. Não recomendo. Mas sei que muita gente vai assistir de qualquer forma. Eu mesma iria, para tirar minhas próprias conclusões. Sou teimosa. Para quem for, boa sorte. E comenta aqui depois.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Recortes

A ousadia acha que está no extremo. As insinuações pensam que estão arrasando. Engraçado quando alguém acha que tem o controle da situação. A gente pensa que está dizendo algo, mas não está. Simplesmente não está. Aquele olhar que imaginamos ser sensual é só um olhar. E um olhar não diz mil palavras. Na verdade, não diz nada. Mas a gente insiste em pensar que é suficiente.

O que não foi dito fica no ar, quer ser passado em mensagem, mas apenas se manifesta em pequenos gestos. O corpo pode ser bem interpretado em uma paquera. Mas só. Não serve para situações mais sérias. E nada substitui o dizer. Você pode até fazer pose e olhar nos olhos, mas deve dizer.

Após ensaios e ensaios, não disse. Ela não quis arriscar, não quis machucar e se machucar. E não dá para pedir que alguém fique esperando que o óbvio seja dito. Até porque o óbvio nem sempre é tão óbvio. A gente se tortura e diz que o outro é covarde. Não é mentira. Mas então são dois covardes. Porque ela também é. Deveria saber que a vida continua. Seria inocência pensar que ficaria parada para ele. Justo ele. Não ficou. Não iria ficar.

Agora a intrusa é ela. E o não saber dói. Machuca. Por ser idiota, por ter quase tido e depois perdido, por não ter falado e achado que demonstrado era o bastante. Não foi. E o que fazer? Como querer que alguém vá ao passado e sinta o mesmo que antes? Tentar? Deixar? Esquecer? Na ânsia de uma resposta que sabe que não será dada, apenas se cala.