domingo, 4 de dezembro de 2011

Nu perante as letras

O caderno velho e cheio de rabiscos traz diversas anotações. Revive momentos. Alguns deles já esquecidos – e são inofensivos -, mas outros apenas foram adormecidos. E voltam assim que despertados. Passado e presente se misturam.

As letras corridas entregam que tudo foi escrito com pressa. Riscos para substituir a falta de corretivo. Tudo em azul pela ausência de outra cor de caneta. Versos e pensamentos desconexos na tentativa de organizar os sentimentos. Falar o que já não pode ser guardado.

Seria carência escrever por não ter alguém ao lado para conversar? Talvez o papel e a caneta apenas sejam velhos amigos que estão sempre prontos para escutar sem julgar. E ninguém faz melhor que esta dupla. Ideias que tanto querem sair e que por vezes são reprimidas ganham (finalmente) a liberdade. O corpo fica nu perante as letras.

Você surgiu e eu não estava procurando por ninguém. E se foi. Mas não quero tentar justificar sua ida. Afinal, suas visitas sempre me fizeram muito bem. São as despedidas que acabam comigo.

Pense em todas as vezes que você partiu. Eu fiquei sozinha. E, é claro, uma hora tinha que me arrumar. Mas sabia que não iria durar. Sempre soube. Só que o saber acaba aí. O final da história, claro, eu desconheço. Misturo partes do que sonho com outras mais realistas, que acabam comigo da mesma maneira que você (quando vai embora).

No meio do dia você vem à minha mente, meu coração dispara, sinto calor, estremeço e perco a concentração. Gosto de pensar que nossa ligação é tão intensa que esses instantes significam que você está pensando em mim. E eu, esteja onde estiver, consigo te sentir. Sem controlar, retribuo: pensando de volta em você. Mais um dia. E é sempre assim.