quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Geração depressiva

Quando crianças, somos incentivados a desejar e a sonhar. Acontece de forma sutil: desde pensar em o que queremos de presente de aniversário e natal até aqueles filmes infantis que falam sobre seguir nossos sonhos e não desistir nunca. Na nossa mente, fica a mensagem de que sempre precisamos de um caminho.

Essa cultura pode até parecer inofensiva. Mas é capaz de causar depressão em milhares de adolescentes e adultos. São vítimas os que simplesmente não sabem o que pretendem ser quando crescer. E pior: crescem e se veem perdidos por não se identificar com nada a ponto de dedicar a vida. Há pessoas que desde crianças sabem o que querem fazer. Há ainda os que pensam em ser algo e, no meio do caminho, mudam de ideia. E aqueles que trocam de rumo o tempo todo por se frustrar a cada empecilho percebido. E os empecilhos às vezes vem de nós. São nossos medos, nossas indecisões, nosso orgulho.

Estamos na época da geração depressiva. A geração que viu tanto conto de fadas e vibrou com tantos heróis na infância, que frustra-se por não ser um. A geração de pessoas que saiu da escola e viu mais facilidades para cursar uma faculdade, mas simplesmente não sabe qual fazer. Começa um curso, percebe que não gosta, para, começa outro, acha as matérias difíceis, tranca a matrícula, vai viajar ou simplesmente fica em casa preso à cama e à tv. Há tantas opções que confundem a mente. Fazer o que gosta ou o que dá dinheiro? Curso mais longo ou mais curto e prático? Algo fácil só para ter diploma?

Em paralelo, estão as pessoas felizes em redes sociais. Enquanto um parou a faculdade e não sabe o que fazer, outro posta fotos que exibem sua prosperidade - está formado, é bem-sucedido e se casou. Em um mundo de pessoas tão vazias, felicidade é ostentação. Torna-se meta a ser alcançada. Mas e quando nem se sabe por onde começar?

Por trás de fotos de sorrisos e copos de cerveja, nem sempre há felicidade. Mas a geração da depressão não sabe disso. Ou pelo menos se esquece de questionar antes de se sentir inferior. Há rumos já traçados e que servem de exemplo para muitos. Livros de autoajuda e biografias de milionários estão aí para inspirar. Mas nem todos se encaixam em caminhos preestabelecidos. Só que cada um pode traçar o próprio. Cada um tem seu tempo. E não há problema em demorar para alcançá-lo. Na verdade, penso que se perder faz parte de um caminho alternativo. Aquele que leva a novas descobertas. Descobertas sobre si. Quem disse que autoconhecimento não é um caminho?

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Velha companheira


Raiva. Quem nunca sentiu? Mas, como dizem, esse é um sentimento que passa. Sempre passa. Vai embora e deixa ressentimentos, porque por mais normal que seja senti-lo, suas causas não costumam ser positivas. Geralmente, tratam-se de pessoas e momentos de que não gostamos e de que talvez nunca vamos gostar.

Mas nos acostumamos a tantas coisas. Vem a revolta, a indignação, a vontade de promover mudanças. O que nos esquecemos é de que não podemos mudar as pessoas e nem o mundo. Não podemos fazer um cego enxergar. 

E quando falo de cego, não me refiro àqueles com dificuldades fisiológicas para ver, falo daqueles que são tão egoístas que não conseguem (ou não querem) olhar em volta. Falo daqueles que são tão presos em suas próprias ideias que não veem (e não respeitam) quem pensa diferente. Falo dos donos da verdade, porque, afinal, é assim que eles se denominam. Apenas eles têm a razão. E não enxergam mais nada.

De fato, dá mesmo raiva de pessoas assim. A gente se revolta. Principalmente quando somos esses que não são notados e que, por mais que neguem, gostariam de ser vistos. A gente, por um instante, se esquece de que amor não se compra. Não há como obrigar alguém a gostar de nós. A pessoa deve querer e, antes de tudo, nos ver.

Com o tempo, criam-se calos. A gente se acostuma com a rejeição. Torna-se nossa velha companheira. E a percebemos ao menor sinal. E, mesmo assim, sentimos raiva da primeira coisa idiota que acontece e que nos lembra dela (da rejeição). Há uma contrariedade aí, claro. E uma que é difícil de aceitar. Porque a raiva é do favor que não foi feito, da resposta que não foi dada como esperamos, de tudo. Quando, na verdade, nada disso realmente importa.

A raiz da raiva está no amor. Ou na falta dele.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Nas nuvens

Medo. É sempre o medo. É ele que quer nos puxar pela perna. Quanto maior a altura, maior a queda, maior o medo. Ele está no frio na barriga, nas rugas que se formam na expressão do rosto de preocupação, nas mil e uma ideias e possibilidades que vêm à mente à noite e nos impede de dormir e nas dúvidas diárias. É ele que nos faz perguntar se estamos no caminho certo e se tomamos a decisão certa. Como se o certo fosse simples. Quando a gente faz algo, é porque acha que é certo. Mas não há problemas em errar. O problema está em não reconhecer o erro e em não aprender com o que foi ensinado.

Há vários tipos de medos, mas geralmente estão todos ligados a não querer se decepcionar. Atribuímos tanta responsabilidade a nós. É como nos cobrar além da conta. Já temos as preocupações rotineiras e ainda queremos a de não errar, que nada mais é também do que não querer sofrer. Mas sofrer é sempre um risco. Há riscos grandes e pequenos, mas eles também estão sempre lá. E são os maiores que costumam nos atrair. É como se fossemos masoquistas. Gostamos daquilo que mais pode nos machucar. E eu disse pode. Não quer dizer que vai. Mas é um risco. E onde há risco, há medo. O maldito medo.

Amar alguém significa dar a uma pessoa o poder de nos ferir. Porque só quem a gente gosta pode nos decepcionar. E saber que alguém tem esse poder assusta. Dá medo. Mas é preciso saber conviver com este sentimento. Ele estará lá e mesmo assim a gente vai seguir em frente. Porque é assim que deve ser. Ele não pode nos atrapalhar. Pode até servir de alerta e é bom que nos force a refletir, mas quando mesmo assim, depois de visto os prós e contras, a vontade persiste, então temos de vencê-lo.

É normal que o medo esteja presente. É normal que haja risco. É normal não querer errar. Sabendo disso, resta-nos pular do penhasco. E que seja bem alto. Porque quanto maior a altura, mais bonita será a vista. E eu quero estar nas nuvens.

terça-feira, 26 de março de 2013

Todas as noites


Seus braços me envolvem e é como se formassem uma película que pudesse me proteger de todo o mal que existe. Você estufa o peito e oferece um lugar para eu apoiar minha cabeça que é como aquele travesseiro preferido que a gente quer levar quando viaja. Uma de suas mãos fica nas minhas costas e me prende com força e carinho, com jeito e cuidado. A outra faz cafuné na minha cabeça e sempre me desperta aquele sorriso de felicidade que só quem se sente amada consegue entender.

Instantaneamente, transporto-me para outro lugar, esqueço-me de tudo. Sinto-me como uma criança se sente segura e protegida em seu esconderijo. Relaxo e descanso. Poderia dormir feito um bebê depois de um dia inteiro de brincadeiras. Este lugar, que poderia ser uma caverna, uma casa na árvore ou algum canto secreto de um jardim, é para onde os seus abraços me levam.

E por ser abstrato, eu consigo fechar os olhos, imaginar que estou sendo abraçada por você e visitar novamente o local onde posso me esconder do mundo e me livrar de tudo o que poderia me perturbar. Lá, encontro com você e atenuo um pouco das saudades que você deixa quando está longe. E, apesar da distância, a gente volta a ficar perto. Ainda que seja só por pensamento. E a sensação é tão real que eu poderia jurar que estou sendo abraçada de verdade. Você me abraça todos os dias antes de dormir e faz eu me apaixonar por você novamente em todas as noites.