É triste decepcionar alguém. Mas talvez pior seja ser
decepcionado. Para tal, é preciso criar expectativas, esperar que alguém seja
de determinada forma e tenha determinadas atitudes. Esperar nunca é bom. Ninguém
quer se iludir. E mesmo assim, esperamos.
E esperamos sem saber que esperamos. Só nos damos conta
quando percebemos que estamos diante de algo que não queremos (que não
esperamos). Esperar dá trabalho. E nossa
mente, de fato, tem grande esforço em trabalhar escondida (pelas nossas costas).
Ela trama contra a gente. Pensa em coisas que não queremos
pensar. Faz com que tenhamos ações que não queremos ter. E nos pegamos no
flagra. E ainda temos que aceitá-la (nossa mente) como parte da gente. Devo
confessar que é difícil conviver com alguém (nós) que pensa tão diferente. No
fim, ainda consegue nos convencer de que estava certa desde o início. Só quando
já estamos fazendo é que percebemos que realmente queríamos fazer. E ela ri. ‘Não
disse?’, deve pensar. E digo ‘deve’ por que realmente não sei como ela pensa. (Infelizmente)
Desconheço os pensamentos dela. Embora os meus ela conheça muito bem.
Nem meus próprios sonhos ela me deixa ver. De vez em quando,
permite que eu tenha flash de alguns momentos. Mas me dá imagens tão
desconexas, por vezes embaçadas e cortadas, que deve querer é me deixar louca. Será
que é esse o real objetivo dela? Isso vai me deixar pensativa. Mas como pensar
sem deixar que ela ouça?
Às vezes, sinto-me invadida. Gostaria de ter um pouco mais
de privacidade. Pensar sozinha, sabe? Sem tê-la o tempo todo comigo. Já ela, sim, consegue ter momentos sem ninguém. Sem mim. E como se tudo isso já não fosse o
bastante, ainda se apodera das minhas ideias. Pega tudo o que passa por mim e
vai guardando para se deliciar mais tarde. Parece que gosta de tudo o que é meu. É viciada
em mim. Deve ser louca.
E quando estou centrada e com medos superados, eis que ela
aparece com novas reflexões. Deixa-me insegura de novo. Parece até que não quer me ver bem. O que
será que tem contra mim? Depois, ainda cobra sanidade. Mas será que não vê
como é difícil conviver com ela (a gente)? Não é à toa que dizemos algo, depois
repensamos, mudamos e voltamos a mudar. Ela fica o tempo todo questionando se é
isso mesmo o que queremos. À vezes me rendo, confesso, e digo o que acho que
ela gostaria de ouvir. Mas não pode me julgar por isso. É que não quero
decepcioná-la. E nem me decepcionar.