sexta-feira, 17 de julho de 2009

Janela indiscreta

Ele é gordinho. Do tipo que deve adorar uma feijoada na quarta-feira e comer até precisar abrir o botão da calça. Está sempre sozinho, arrumando papéis e organizando a sala. Tem cara de contador. Mas talvez seja um advogado. Ao redor dele há muitas caixas e muita bagunça. Não muito diferente de onde estou. Mas aqui tem companhia, risadas e música. Lá, só ele, o pó e as pilhas de livros e documentos.

É baixinho, veste camisa e calça social. Mas nada de terno. Deve ser simpático. Poderia dizer um “oi” se a sala ficasse aberta. Pelo jeito, portas escancaradas e conversas altas são particularidades nossas. Anda de um lado para o outro, como se analisasse o tamanho da baderna e parasse para decidir por onde pode começar. Parece que nunca estará tudo em ordem. E se continuar no ritmo em que está, vai demorar muito mesmo.

Será que brigou com o sócio e decidiu seguir sozinho? Se a quantidade de caixas significar anos de trabalho, diria que tem experiência de sobra. Deve ser um quarentão. Não. Ele não é atraente. Não no sentido físico. Entretanto, para quem passou anos com a mesa de trabalho virada para uma parede, esse é um prato cheio. Se eu olhar para o alto, ainda posso degustar da imagem de inúmeras árvores. Já me disseram que há até papagaios e esquilos por aqui. Mas eu ainda não vi.

Embora eu é que esteja em um lugar fechado, é como se minha janela fosse o vidro de um aquário gigante que está à disposição do meu entretenimento. Já a sala ao lado é um caso a parte - quase um reality show. Dentro e fora também podem ser uma questão de referencial.

2 comentários:

Anônimo disse...

Q bonitinho este texto. rs

Fabis Matrone disse...

Quando a nossa vida pessoal entra em turbulências, sempre postamos menos né?

Bjoooo Déiaaa