sábado, 24 de junho de 2017

Buraco

O vazio é tão imenso que fica cada vez mais dificil preenchê-lo. E chega um momento em que quase nada serve. E o espaço vai aumentando. E uma dor surge proporcionalmente. A gente fica sensível. Cada vez mais. Tudo machuca. A imunidade emocional cai. E a gente quer que o tempo passe rápido. Sem saber exatamente para quê. Como se viver fosse riscar os dias do calendário. Um por um. Sem propósito algum.

A gente fica vulnerável. E perde o gosto, o encanto, o prazer, as vontades. A gente se descaracteriza. Quer passar sem ser notado. Na verdade, quer ser invisível. Age por obrigação e no automático.

Há dias em que gostaria de não sair de casa. Mas saio. Há deveres a cumprir. E, em meio a sorrisos, música e café, o dia termina. Nem sempre é ruim. Mas a gente anda como se estivesse esquecendo algo. Falta alguma coisa e não sabemos o que é. Será que sempre seremos incompletos?

O tempo passa. E dá vontade de voltar e começar tudo de novo. Embora eu saiba que faria tudo igual. Na verdade, seria para atrasar o tempo. Para ganhar tempo. Para me convencer de que é natural que nem tudo seja do jeito como imiginamos. Porque éramos inocentes quando idealizamos. Idealizar é ser ingenuo. Porque o ideal hoje nem sempre é o melhor amanhã. Mas a gente se prende ao que foi desejado. E se sente péssimo quando não o alcança.

Também parece que estamos sempre fugindo. Fugindo do tédio. Fugindo da realidade. Fugindo da solidão. A gente se agarra a algo pra fugir. E às vezes até confunde a fuga com o amor.

No fundo, somos todos carentes. A diferença é que uns escondem melhor que os outros. Por dentro, a gente é uma criança cheia de medos a superar. E provavelmente nunca supere todos.

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