Há muitas coisas para se fazer em uma sexta-feira à noite: cinema, bares, baladas. Mas não, eu queria ir ao teatro. A peça era gratuita, meu bolso agradeceria e depois dela teria inúmeros bares para fechar a noite.
- Por favor, três ingressos para "O Sacrifício".
- Os ingressos acabaram.
- Acabaram?
- Sim, acabaram.
- Faz tempo?
- Desde 12h30.
A gente tenta ser “cult”, mas o mundo é mesmo dos espertos. Neste caso, de quem trabalha pelos arredores da Av. Paulista ou conhece alguém por lá. Era 19h30 e nossas barrigas suplicavam por comida. Mas se quiséssemos ver a peça, o jeito era ficar na fila da desistência a espera de pessoas que tivessem uma boa dor de barriga, de cabeça ou por algum outro motivo não conseguissem chegar no horário. Ou seja: uma hora na fila e mais duas de peça. A barriga tinha que entender. Depois a encheríamos de batata frita e cerveja. E entendeu. Aguardou quietinha as três horas porque nem todos os espertalhões que foram cedo pegar ingressos compareceram na hora.
Também há varias coisas para se fazer em um sábado à tarde: passear com o cachorro, fazer pic-nic no Ibirapuera, cinema, dormir. Mas não, eu queria assistir uma ópera no Teatro Municipal.
- Dois ingressos para "Almahl e os visitantes noturnos", por favor!
- Os ingressos já acabaram.
- Mas no site falava que iria começar a distribuir apenas às 14h.
- E começamos a distribuir às 14h.
- E já acabaram?
- Sim, já acabaram.
Olhei no relógio: eram exatamente 14h05. Minha amiga falava em alto e bom som que é humanamente impossível distribuir tantos ingressos em cinco minutos. Não acreditamos no que ouvimos e ficamos de plantão ao lado da bilheteria para nos certificar de que isso era realmente verdade. De fato, eles repetiram para os outros o que nos disse. O pessoal saia reclamando e nós aproveitávamos para ressaltar que aquilo era impossível. Uns minutos mais tarde, uma mulher saiu com dois ingressos na mão. Eu fui até ela:
- Desculpe, esses ingressos que a senhora pegou é para qual espetáculo?
- "Almahl e os visitantes noturnos".
- Filho da p***!
Pegamos a fila novamente. A mulher da bilheteria tentou nos convencer de que os ingressos que aquela mulher pegou era de alguém que desistiu.
- Mas se nós estávamos na frente dela, por que não deram os ingressos para a gente? Chegamos 14h05.
- Fiquem por aqui, se alguém desistir nós chamamos vocês.
Santa ignorância! Nós ficamos ali o tempo todo e ninguém foi devolver nada. Observei pessoa por pessoa. Alguns minutos depois, um homem fez um sinal para nós. Tímidas, sem saber se o sinal era para a gente, voltamos à bilheteria.
- Oi?
- Quantos ingressos vocês querem?
- Dois.
Discretamente, ele destacou dois ingressos e nos deu. Mais discretamente ainda, dobramos e o guardamos. Estávamos livres para comer porque faltava mais de uma hora para começar a ópera. Nossas barrigas já não agüentavam mais. Agora eles estavam livres para dar ingressos a quem queriam. Afinal, não ficaríamos mais ali enchendo o saco, contando nossa história para as outras pessoas e perguntando qual era o ingresso que os outros tinham na mão quando saiam da fila.
É...O mundo é mesmo dos espertos. E para tudo dá-se um jeitinho.
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
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3 comentários:
e, claro, se non fossem os tapados, o que seriam dos espertos?
:D
Que viva a lei de Gerson né?
huahauahuahauhau
Vamos para o niver do Váaaaaaaaaa
Nem falarei sobre ética (assunto a ser versado pelo nobre Fabrício logo mais à noite...). Mas, resgatando uma célebre frase de um conhecido meu: "Não é que sou malandro apenas me destaco no meio dos otários". E viva a ópera do Malandro.
Chico, não o Buarque
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